Megaoperação no RJ: "Número Absurdo de Mortes" Choca Especialistas e Expõe Falhas Crônicas na Segurança Pública
Com 64 mortos em 24 horas, complexos do Alemão e da Penha viram palco de violência extrema, evidenciando despreparo e a letalidade da política de segurança do estado.
O Choque dos Números e a Realidade Ignorada
Uma megaoperação policial que mobilizou 2.500 agentes de segurança nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, resultou em um número alarmante de mortes, chocando especialistas e a opinião pública. Foram **64 pessoas mortas**, incluindo quatro policiais, em um cenário de confrontos intensos com criminosos que utilizaram barricadas, drones, bombas e armas de fogo. A **megaoperação no RJ** expôs, mais uma vez, as profundas falhas e a letalidade da política de segurança pública no estado.
Carlos Lhanga, coordenador do Instituto Fogo Cruzado, classificou o número de mortes como um "número absurdo", criticando a alegação de surpresa por parte do governador. "É uma falácia que chega a ser absurda do governador, esse tipo de argumento, porque coloca a real e se choca e se confronta com a realidade que a gente vivencia todos os dias, sobretudo nós do Fogo Cruzado monitorando os dados, né?", afirmou Lhanga.
Ele destacou um dado crucial: "A maior parte das vítimas letais de arma de fogo no Rio de Janeiro são vitimadas pelas forças policiais, sejam do estado do Rio de Janeiro ou em operações conjuntas com outras forças, mas as forças policiais são responsáveis pela maioria das mortes por arma de fogo no estado do Rio de Janeiro." Essa declaração contradiz diretamente a narrativa de que a polícia foi "surpreendida" pela capacidade bélica do Comando Vermelho.
Despreparo e Ciclos de Violência que se Repetem
A falta de preparo em operações de grande escala não é novidade. Lhanga relembrou uma operação similar no complexo de Israel, dominado por uma facção rival ao Comando Vermelho, onde a população também foi colocada em risco. Na ocasião, houve intensa troca de tiros, atingindo civis inocentes, como trabalhadores em ônibus e pessoas dentro de suas casas.
"Veja, esse tipo de situação não é nenhuma novidade, não só para nós do Instituto Fogo Cruzado, mas quem lida com a violência do Rio de Janeiro no dia a dia, que é a população do estado. O governador tratar isso como um incidente, uma surpresa, um fato novo é algo escandaloso para dizer o mínimo, né?", criticou o coordenador.
A história do Complexo do Alemão, por exemplo, é marcada por ciclos de violência. Lhanga mencionou que já nos anos de 1994 e 1995, o local foi palco de duas chacinas com mais de 30 mortes e diversas violações de direitos humanos, levando a uma condenação do Estado brasileiro pela Corte Interamericana. A ocupação de 2010 também não trouxe a paz esperada, e a situação se repete até hoje.
O Impacto Devastador na População e a Necessidade de Mudança
A fala de Mirelle, que também participou da discussão, reforçou o terror vivido pelas comunidades. "É realmente assustador, assim, o que aconteceu no Rio de Janeiro ontem. Foi uma cena que eu acho que só quem estava lá conseguiu sentir assim, porque foi foi um terror. E eu imagino que para essas comunidades, conviver com essa com essa rotina de fato é muito difícil, né?", relatou.
Além do alto número de mortes, a operação resultou em **arrastões, vias fechadas** e o fechamento de serviços essenciais. "A gente viu transportes parados, trens, metrôs, vias interrompidas", completou Lhanga, evidenciando o **impacto econômico surreal** e a negligência em outras áreas como saúde e educação, com milhares de crianças e adolescentes sem aulas.
O coordenador do Fogo Cruzado enfatizou que a política de segurança pública no Rio de Janeiro se impõe a todas as outras áreas, afetando diretamente a vida dos cidadãos. "Não podemos continuar com uma política que mede como indicador de sucesso 60 corpos estirados, fuzis apreendidos, drogas apreendidas, sem entender que o impacto vai para além disso, vai para muito para além disso", alertou.
A necessidade de uma **mudança drástica na concepção de política de segurança pública** no Rio de Janeiro é urgente. Lhanga defende uma articulação com outros poderes, incluindo o executivo federal e municipal, para que o destino de milhares de pessoas não seja decidido por uma única parte do governo. A **megaoperação no RJ** é um grito de alerta para a ineficácia e a crueldade de um modelo que falha em proteger a vida e a dignidade de seus cidadãos.
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