Nome de José Ferreira da Silva foi citado em debate sobre descontos irregulares em aposentadorias
A base do governo na CPMI do INSS barrou nesta quinta-feira (16/10) a convocação de José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A oposição havia solicitado que ele prestasse depoimento à comissão após seu nome aparecer ligado a uma das entidades investigadas pela Polícia Federal em uma operação que apura descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
Segundo informações apuradas, Frei Chico ocupa o cargo de vice-presidente de uma das entidades que estão sob investigação, mas não é alvo do inquérito nem figura entre os investigados formais.
O pedido de convocação e o embate político
A solicitação partiu de parlamentares da oposição, que defendiam a necessidade de ouvir o irmão do presidente para esclarecer o papel da entidade na operação. Durante a sessão, deputados e senadores governistas reagiram, afirmando que a convocação teria caráter político e buscava apenas criar constrangimento ao presidente da República.
A maioria da base governista votou contra o requerimento, resultando no arquivamento do pedido. Membros da oposição, por sua vez, criticaram o resultado e prometeram insistir no tema nas próximas reuniões da CPMI.
“Não se trata de perseguição, mas de transparência. Se o nome aparece vinculado a uma instituição investigada, nada mais justo do que prestar esclarecimentos”, argumentou um senador da oposição.
Do lado governista, um deputado aliado de Lula rebateu: “Frei Chico não é investigado. A tentativa de convocá-lo não tem fundamento jurídico e apenas reforça o uso político da comissão”.
Entenda o caso da CPMI do INSS
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS foi instalada no Congresso Nacional para investigar golpes e descontos irregulares realizados em benefícios previdenciários. O esquema teria movimentado milhões de reais por meio de associações e entidades que, segundo a investigação, realizavam cobranças sem autorização dos aposentados.
Em setembro, a Polícia Federal deflagrou uma operação em parceria com o Ministério da Previdência Social, cumprindo mandados de busca e apreensão em vários estados. O objetivo era desarticular organizações suspeitas de fraudar contribuições e abater valores diretamente dos benefícios de milhares de segurados.
Quem é Frei Chico
José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, é irmão mais velho de Lula e histórico militante sindical. Durante o regime militar, foi um dos primeiros a incentivar o então jovem metalúrgico Luiz Inácio a ingressar no movimento sindical.
Atualmente, Frei Chico atua como vice-presidente de uma associação ligada a aposentados, que, segundo a PF, aparece entre as entidades sob apuração. No entanto, não há indícios diretos de sua participação nas supostas irregularidades, conforme destacaram fontes próximas à investigação.
Próximos passos da CPMI
A CPMI deve continuar ouvindo representantes de instituições suspeitas e técnicos do INSS e da Dataprev nas próximas semanas. Parlamentares avaliam também convocar servidores e dirigentes de entidades regionais para esclarecer como funcionavam os descontos automáticos em folha.
A oposição pretende apresentar novos requerimentos de convocação, enquanto a base governista tenta restringir o foco da comissão às práticas fraudulentas, sem transformar o colegiado em palco político.
Clima no Congresso e repercussão
Nos bastidores, aliados de Lula consideraram a tentativa de convocar Frei Chico uma “provocação política” e elogiaram a articulação da base em impedir a votação. O episódio, porém, reforçou a polarização dentro da comissão, que tem sido um dos espaços mais conflituosos da atual legislatura.
Analistas políticos avaliam que o governo tenta blindar o entorno de Lula de desgastes adicionais, enquanto a oposição busca associar o presidente a qualquer menção em investigações, mesmo que indireta.
Transparência e pressão pública
Organizações civis e entidades de aposentados cobraram que a CPMI avance na identificação dos responsáveis pelos descontos ilegais e assegure devolução dos valores às vítimas. O governo, por sua vez, promete apresentar um pacote de medidas para reforçar a segurança dos sistemas de autorização e evitar fraudes nos benefícios.
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